Estrada Real

Durante os séculos XVI e XVII a expressão Estrada Real era utilizada para designar um conjunto de vias fiscalizadas pela coroa portuguesa, ligando os municípios de Diamantina e Paraty, que permitiam os acessos às mais importantes regiões de exploração de ouro e pedras preciosas, bem como a circulação de idéias revolucionárias.

Originariamente, para alguns estudiosos, o conceito de Estrada Real é de natureza tributária e fiscal.

Naquela época para construir essa estrada os bandeirantes seguiram a marcação de antigas trilhas indígenas, e nos dias atuais ao longo desse percurso ainda pode-se ver muitas vias calçadas por escravos, inclusive inúmeras pontes, monumentos, povoados, distritos, e cidades que preservam um rico patrimônio natural e cultural.

Posteriormente, por volta dos séculos VVIII e XIX, quando a atividade mineradora declinou e esses caminhos se tornaram livres e empobrecidos, não mais interessantes à Coroa Metropolitana, as estradas reais vieram a apresentar intenso tráfego e se transformar em importantes troncos viários no centro-sul do território colonial.

Ao longo das estradas reais se espalharam inúmeros postos fiscais de registros e controle, obras inclusive que atualmente ainda podem ser apreciadas. Tratava-se dos registros do ouro, onde fiscalizavam o transporte do metal e cobravam o quinto; os registros de entrada, que possibilitavam a cobrança pelo tráfego de pessoas, escravos, animais e mercadorias; os registros da demarcação diamantina, encarregado pela cobrança da entrada na zona de extração do diamante e pelo policiamento para evitar o contrabando; e, ainda, as contagens, que tributavam o trânsito de animais.

Esses prédios de registro eram instalados em locais cuidadosamente escolhidos, em geral desfiladeiros, passagens obrigatórias entre as serras e nas margens dos cursos d’água. Para administrá-los eram utilizados os serviços de um administrador, um contador, um auxiliar e até quatro soldados, sendo que no local a estrada era fechada por um portão com cadeado.

A expansão desses caminhos possibilitou que no território colonial o espaço interiorano fosse integrado com a faixa litorânea. Vê-se, assim, que a Estrada Real além de ser um importante movimento de apropriação do interior, também foi fundamental na história do povoamento e da colonização de vastas regiões do território brasileiro, tornando-se, inclusive, verdadeiras vias histórico-culturais de nosso povo.

No dia de 5 de outubro de 1999 a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) criou o Instituto Estrada Real (IER), uma sociedade civil sem fins lucrativos que tem por objetivo organizar, fomentar e gerenciar o produto turístico Estrada Real.

Em abril de 2003 o Governo do Estado de Minas Gerais resolveu transformar tal iniciativa em programa estruturante de governo, quando foi imediatamente implantado em 177 municípios, sendo 162 de Minas Gerais, 8 do Rio de Janeiro e 7 de São Paulo, e transformou-se em ferramenta importante para incentivo ao desenvolvimento econômico e social sustentado, à geração de emprego e renda, e, ainda, à preservação dos patrimônios históricos, culturais, artísticos e ecológicos dos municípios onde implantado.

Imediatamente a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e o Instituto Estrada Real firmaram um termo de cooperação com Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), envolvendo recursos da ordem de US$ 3,4 milhões, para a execução de programas de fortalecimento das redes de turismo ao longo da Estrada Real, ou seja, com a finalidade de criar uma rede de pequenas e médias empresas da cadeia produtiva turística, promover a qualificação e o treinamento dos empresários locais, e, ainda, desenvolver novos produtos turísticos e comercializá-los.

Dia 1º de maio de 2006 o Instituto Estrada Real assinou um convênio de cooperação técnica, onde as Nações Unidas, através do PNUD, incorporou-se ao projeto e se comprometeu a repassar tecnologia para a elaboração, execução e acompanhamento de projetos de desenvolvimento.

Ainda em prosseguimento aos trabalhos de estruturação, no dia 13 de junho de 2006 foi a vez das Secretarias de Estado de Turismo e de Planejamento e Gestão se incorporarem ao programa, ocasião que foram assinados convênios para o repasse de R$ 1,05 milhão destinados ao desenvolvimento de projetos envolvendo os pólos turísticos da Serra do Cipó e Diamantina, inclusive para o levantamento de dados, diagnóstico e elaboração do plano de gestão do Circuito das Águas.

Em paralelo o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) criou uma linha de crédito denominada Fundese-Estrada Real, e através da mesma liberou recursos para 281 empreendimentos, em 52 municípios, sendo que tais projetos somaram R$ 12 milhões de recursos do banco e R$ 19,6 milhões dos próprios empreendedores.

Ainda que escolhas alternativas pudessem envolver um número maior de municípios, após diversos estudos a seleção final dos caminhos que integram a Estrada Real foi decidida conjuntamente pelo Instituto Estrada Real, Universidade Federal de Minas Gerais e Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER/MG), buscando respeitar o conceito histórico e geográfico, e a efetiva capacidade de se atrair turistas e se instalar a infra-estrutura necessária.

Atualmente a Estrada Real é o mais amplo projeto turístico em desenvolvimento no país. Ela abrange 1.400 quilômetros de rodovias e envolve 177 municípios através de três caminhos: o Caminho Velho, que liga Ouro Preto (MG) à Paraty (RJ), que foi a primeira via oficializada; o Caminho Novo, que liga a cidade de Ouro Preto (MG) à cidade do Rio de Janeiro (RJ), aberto no século XVII; e o Caminho dos Diamantes, que liga Ouro Preto (MG) à Diamantina (MG), criado em 1729 por ocasião da descoberta de diamantes na região do Serro Frio.

Por envolver patrimônios culturais e naturais espetaculares, a Estrada Real rapidamente vem atraindo turistas de todo o Brasil e do exterior, especialmente dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Dentre os recursos naturais, a exuberância das águas torna esse circuito singular, sendo que a parte mais significativa das atrações envolve rios, cachoeiras e lagos, destacadamente da Serra do Cipó, Santa Bárbara, Diamantina e Carrancas, mas não há dúvida de que o patrimônio histórico e cultural envolvido nesse projeto também é especialíssimo, significando uma janela para própria história do Brasil.

Além dos estudos já desenvolvidos, o Governo do Estado de Minas Gerais através da Secretaria de Estado de Turismo e a Federação das Indústrias de Minas Gerais encomendaram de uma empresa de consultoria especializada um amplo diagnóstico turístico, inclusive envolvendo as potencialidades do turismo de natureza da Estrada Real, em especial o destino Serra do Cipó.

O relatório final desse diagnóstico recentemente apresentado, além do Parque Nacional da Serra do Cipó, algumas pouquíssimas e especialíssimas propriedades privadas foram identificadas e denominadas “joias” da região do Circuito do Diamante, em face do potencial das mesmas para se tornarem chamarizes e atrair um público diferenciado.

Há de se destacar que para ser considerada “joia” não bastava a propriedade possuir simplesmente alguns atrativos, era necessário que ela atendesse pelo menos os seguintes critérios, conjuntamente:

I) reunisse as qualidades básicas do atrativo;

II) possuísse localização estratégica (área no entorno dos parques, dentro de corredores ecológicos);

III) reunisse potencial para o desenvolvimento de produtos;

IV) tivesse sinergia com o destino;

V) contribuísse para a variedade da oferta.

Noutro giro, é relevante salientar que em face da importância cultural, Ouro Preto (1980), Santuário do Bom Jesus em Congonhas (1985) e Diamantina (1999) foram inscritas na Lista de Sítios de Patrimônio da Humanidade da UNESCO. 

Também merecem serem ressaltados os inúmeros festivais e eventos culturais promovidos por instituições públicas e pela iniciativa privada, envolvendo a história, a arquitetura, a cozinha, as tradições, as belezas naturais e o calor humano do circuito, o que torna a Estrada Real um destino verdadeiramente inimaginável para o turista de qualquer parte do mundo. 

Ao percorrer o circuito o turista rapidamente consegue estabelecer o elo entre o passado e o presente. Ele experimenta o contato e a convivência com o legado cultural, com a expressividade peculiar de cada comunidade, e com as tradições que sobreviveram mesmo influenciadas e modificadas ao longo do tempo.

A Estrada Real busca reunir a todos esses inúmeros atrativos, meios de hospedagem e alimentação de boa qualidade, além de possibilitar a prática de um turismo cultural participativo, atento aos detalhes e peculiaridades para se entender as comunidades, seus costumes e valores. 

Nesse circuito cada cidade tem suas características físicas, seu movimento próprio, suas emoções, seus cheiros, seus sons, e a seu modo cada uma delas convida o turista a vivenciar e experimentar parte de sua história.

Nos dias atuais o turismo cultural se fundamenta nos seguintes princípios:

I) gestão, qualidade, sustentabilidade e interpretação;

II) deve ser realizado por um número pequeno de visitantes, com tempo para apreciar lugares e manifestações, recebendo mensagens detalhadas e de qualidade dos lugares;

III) o visitante deverá ser envolvido em um novo universo de experiências, inclusive com visitas apoiadas em atividades práticas, através da arte, da gastronomia, das manifestações populares, das manifestações culturais, e dos atrativos naturais.

Importantes estudos evidenciam que a partir do momento que levamos para o coração e mente das pessoas as idéias de preservação, mexendo com as emoções de maneira a desenvolver algum tipo de afeição pelo ambiente visitado, quer se trate de espaço público quer se trate de espaço privado, imediatamente formamos grandes aliados para a luta pela preservação.

Para outras informações e maiores detalhes consultar o Instituto Estrada Real, ou a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais na cidade de Belo Horizonte, MG.