Shopping de Pousadas

Helio Mattos de Moraes*

A indústria do turismo é um dos negócios mais rentáveis em todo o mundo. É um mercado crescente, que envolve números astronômicos e pode dar bons lucros.

Como parte desta engrenagem uma pousada bem instalada é o tipo de empreendimento com todas as condições de alcançar o sucesso, todavia no Brasil esse importante segmento jamais mereceu atenção das autoridades governamentais ou da própria sociedade.

É uma alternativa de hospedagem mais acessível, com algum conforto, porém sem luxo na maioria dos casos. Embora seja uma tendência antiga, baseada nas hospedarias do passado, o boom desse tipo de negócio é um fenômeno razoavelmente recente verificado onde existe algum tipo de atrativo natural.

Levantamentos oficiais não existem, entretanto estimativas conservadoras indicam que reunidos os números desse segmento são impressionantes. Em geral esse empreendimento é gerenciado pelo proprietário e parece extensão da sua própria casa.

Muitas vezes é implantado num terreno pouco valorizado, com reduzida área construída e mínima infraestrutura, por isso depende muito das atrações e serviços existentes ao redor. Invariavelmente oferece um atendimento individualizado, com privacidade, sendo considerado no ramo hoteleiro um negócio de custo operacional e risco relativamente reduzido.

Diante dessa realidade novas ideias da concepção e planejamento do negócio podem dar bons resultados, como, por exemplo, a partir de um plano diretor e ao redor de uma completa infraestrutura de serviços e lazer, reunir num único e amplo imóvel diversos empreendedores interessados em explorar esse meio de hospedagem.

Para isso devem ser delimitadas no imóvel pelo menos duas grandes áreas: uma de uso privativo envolvendo as pequenas glebas onde serão edificadas cada uma das pousadas, e outra de uso coletivo envolvendo os locais destinados à instalação da infraestrutura de serviços, lazer e convívio.

Nas pequenas glebas privativas, por exemplo, arrendadas para se reduzir o investimento inicial, cada empreendedor cuida de edificar a sua pousada, e a partir de um projeto básico na área de uso coletivo os empreendedores em conjunto se responsabilizam pela implantação das instalações de uso comum, tais como restaurante, auditório, parque aquático, quadras, etc.

Essas instalações, inclusive os eventos, podem ser comercialmente exploradas através de terceirização, por conseguinte além de autossustentável a área de uso coletivo se torna atrativo investimento e uma importante fonte de renda.

Visando harmonizar o conjunto o plano diretor fixa as normas gerais, inclusive restrições urbanísticas, todavia sem prejudicar a criatividade ou particularidade do projeto específico de cada uma das glebas menores que individualmente serão exploradas.

A ideia é se transformar cada pequena gleba numa vitrine, e, o conjunto, num shopping de pousadas, ou seja, cada empreendedor explora individualmente sua pousada e através de associação também participa nos resultados da área de uso coletivo.

Para o investidor capitalista um negócio com tais características também pode ser excelente. Por exemplo: ele providencia a aquisição do imóvel; cuida de desenvolver o plano diretor; e implanta o projeto básico na área de uso coletivo. Em seguida, nos moldes de inúmeros shoppings, assegura o retorno do seu investimento através do arrendamento das glebas privativas onde serão edificadas as pousadas.

Atualmente no país uma infinidade de regiões com potencial turístico abrigam inúmeras pousadas (ou pequenos hotéis) que vistas isoladamente pouco sobressaem, entretanto se assim fossem concebidas reuniriam excepcionais potencialidades, merecendo destaque: a manutenção das vantagens e atrativos originais; a viabilização de atividades atualmente impossíveis; a diversidade de instalações e serviços ofertados; a atração de público até por se tratar de inovação; a possibilidade do conjunto ter vida própria; a facilidade de se modular a implantação e programar as expansões; a vantagem de se operar através de um sistema também cooperativo; o privilégio de se ratear importantes custos operacionais; a capacidade de o negócio gerar mais de uma fonte de receitas; e, a importância das municipalidades passarem a lidar com projetos mais abrangentes e elaborados.

Finalmente, além da melhoria qualitativa do turismo, igualmente importante seria o fato de que capitais e bandeiras internacionais passariam a concorrer de maneira mais saudável com um grande número de empreendimentos nacionais de porte equivalente.

(*) advogado, foi empresário na Serra do Cipó. — E-mail: heliomoraes@gmail.com